segunda-feira, 14 de maio de 2007

Leitura, o grande desafio do ensino

Domínio da linguagem escrita, muito precário na escola e na sociedade em geral, é o grande desafio da educação brasileira

Rubem Barros

Dora é professora aposentada. Vive sozinha em um pequeno apartamento de classe média no Rio de Janeiro. Como o dinheiro é insuficiente, escreve cartas para analfabetos na estação Central do Brasil. Cobra R$ 1 pela redação e mais R$ 1 pelo envio. Via de regra, as histórias de vida que leva ao papel traduzem o desassossego e as esperanças de pessoas apartadas de suas famílias e de sua terra. E não resultam em comunicação, pois quase sempre terminam na lata do lixo.
Ponto de partida de Central do Brasil (1998), filme de Walter Salles ganhador do Urso de Ouro em Berlim, a história de Dora (Fernanda Montenegro) e do menino Josué (Vinicius de Oliveira), a quem ela acorre na busca pelo pai que ele não conhece, espelha algumas das questões centrais do acesso à leitura e ao letramento no Brasil. Mostra um enorme contingente de adultos que não dominam a escrita, as limitações de suas vidas em função disso, o pouco reconhecimento social destinado aos professores e o lugar ocupado pelas religiões para a construção de sentidos entre a população menos letrada.
A esses fatores somam-se outros que fazem do precário domínio da escrita e do parco entendimento da leitura problemas centrais da educação brasileira. Segundo dados de 2003 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), apenas uma em cada 289 cidades do país tem uma população que, na média, permaneceu por oito anos ou mais na escola, tempo necessário, segundo a Unesco, para se atingir o alfabetismo funcional. E mais: 1.796 municípios (32,6% do total) apresentam população acima de 15 anos com escolarização média inferior a quatro séries concluídas.
Principal lócus promotor do aprendizado, a escola falha por não dialogar com o universo de origem dos alunos, invalidando suas experiências e expressões. Segundo pesquisa da Fundação Getulio Vargas divulgada em abril, 20% dos jovens entre 15 e 17 anos estão fora da escola, 42% deles por desinteresse. Os resultados das avaliações de habilidades de leitura daqueles que permanecem são insatisfatórios. No Pisa 2000, prova internacional promovida pelos países-membro da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os 5 mil alunos brasileiros participantes ficaram em último lugar entre estudantes de 22 países, atingindo apenas o nível 1 de proficiência (de cinco possíveis). Na Prova Brasil de 2005, os alunos de 8ª série tiveram desempenho médio de 222,6 pontos em 500 possíveis, cinco a menos do que o aferido no Saeb de 2003, quando comparado o mesmo universo de participantes.
Já o Índice Nacional de Alfabetismo Funcional (Inaf), levantamento que avalia, em anos alternados, ora as habilidades de leitura e escrita, ora as matemáticas, mostrou em sua edição de 2005 que os alfabetizados plenos - aqueles que lêem textos mais longos e conseguem fazer relações e inferências - constituem 26% do total da população entre 15 e 64 anos, número idêntico ao aferido na primeira amostragem (2001).
Mas, se o problema é de proporções preocupantes, há variáveis novas, algumas alentadoras. Os anos 90 representaram um segundo momento de universalização do acesso à educação iniciado na década de 60. "Agora estamos convivendo com um aluno que antes se evadia depois de um ano de escola. E a educação tem de trazer respostas para isso", lembra o lingüista Paulo Mendes, consultor do Plano Nacional do Livro Didático (PNLD).
Analfabetos
7% dos entrevistados pelo inaf* 64% do sexo masculino 77% têm mais de 35 anos 81% pertencem às classes D e E 60% completaram de um a três anos de estudo.

Um comentário:

Lêda Gonçalves de Freitas disse...

Angelina,
Não podemos colocar textos de outros sem indicar a fonte, ou seja, de onde foi retirado.
No blog eu quero ver os textos dos alunos.
Abraços,