segunda-feira, 23 de abril de 2007




A UNESCO lançou uma publicação muito interessante chamada: O perfil dos professores brasileiros: O que fazem, o que pensam, o que almejam.
Apresenta um retrato dos professores brasileiros dos ensinos fundamental e médio, de escolas públicas e privadas, nas 27 Unidades da Federação.
O estudo foi construído a partir de questionários respondidos por 5 mil professores, sendo 82% da rede pública e 18% da rede privada. Eles representam 1.698.383 docentes.
A pesquisa analisa características sociais, econômicas e profissionais dos docentes. Reúne, também, suas percepções e opiniões a respeito de questões de âmbito social, político e educacional.
Aborda a realidade cotidiana em que vivem, bem como suas perspectivas e aspirações profissionais e suas visões sobre questões emergentes na sociedade (comportamento ético, expressões juvenis, discriminação, criminalidade) e que estão relacionadas com seu trabalho. Finalmente, considera aspectos que interferem na identidade profissional.
O livro está disponível na internet:

http://unesdoc.unesco.org/ulis/cgi-bin/ulis.pl?req=2&mode=e&M069=UNESCO+Brasil*&look=brasilia&database=ged&sc1=1&sc2=1&lin=1&widen=1&ll=s&text=perfil&submit=%A0%A0Buscar%A0%A0



Estou lendo o livro, e fiz uma entrevista com o professor Miguel Ney, da UCB. Ele é muito inteligente.
Gostaria de dividir com vocês, um parte da entrevista.
Espero que gostem.


Nome: Miguel Ney Monteiro
Formação: Pedagogia (graduação); Mestrado em Educação.
Atividades que desenvolve: Magistério superior, gestão.


1. Diante do aumento das exigências em relação ao professor, é cada vez maior o número de responsabilidades. Levando em conta o domínio da disciplina, pede-se que ele seja pedagogo, o organizador de grupo, que cuide do equilíbrio psicológico e afetivo dos alunos, da integração social, da educação sexual, entre outras coisas.Você acredita que isso foge ao papel atribuído ao professor e à escola nos dias atuais?

R. A questão não é nova. Recordo-me que na década de 70 foi publicado um livro muito interessante, onde eram listadas 22 funções do professor, todas elas pertinentes. Tais perfis, na prática, não passam de idealizações, utopias que iluminam a busca da perfeição profissional, que somente pode ser atingida a duras penas e ainda assim de forma incompleta, relativisada pelas condições reais de formação e exercício do magistério. Herdeiros culturais dos gregos, não nos falta imaginação para criar super-heróis ou semi-deuses. Precisamos apenas de bons professores e isto é bem menos do que se propala.

2. Você acha que a educação, hoje, dá ao aluno uma formação sólida capaz de ajudá-lo na sua capacidade de pensar criticamente, de colocar cientificamente os problemas humanos?

R.Sinceramente, acho que não. Seria preciso implantar o primado da educação (moralidade, socialidade, fraternidade) sobre a instrução (intelectualidade, erudição), isto é a primazia da conduta sobre o conhecimento (NEY LOBO). Fazemos – e muito mal – somente instrução. A prova está nas “pérolas” colhidas nos sucessivos ENEMs.

3. Os professores, sem dúvidas, são elementos essenciais para a melhoria da qualidade do ensino e para o progresso social e cultural. Então, por que muitas vezes são vistos como profissionais medíocres, dotados de uma formação deficiente?

R. Há muito que as classes dominantes descobriram que a educação popular de qualidade não faz bem aos seus interesses. Preferem manter o povo na ignorância, para que este não perca sua condição de cliente eterno dos coronéis rurais ou urbanos. Nada mais natural, portanto, que um dos agentes do processo de libertação, o professor, seja achincalhado, humilhado pelos baixos salários e pouco reconhecimento, como parte da estratégia de sucateamento da própria educação. Para uma escola reprodutiva do “status quo” basta um “gerente” pouco qualificado, um sofredor a mais na imensa senzala dos excluídos do projeto civilizatório.


4. “Frequentemente, o educador se sente perdido e jogado à própria sorte, tendo que encontrar por sua conta e risco as saídas possíveis”. Você concorda com essa afirmação? Por quê?

R. Em parte. Nem todos os educadores têm consciência da subjugação ideológica a que se acham expostos. Existem aqueles que se posicionam como “atores” da história e buscam intervir na realidade para modificá-la. Falta, apenas, o senso de organização, como diria Gadotti, para uma ação mais efetiva e necessária para mudar o quadro vigente da educação no país.

5. Em sua opinião, qual é o desafio que se delineia para o professor da área escolar, hoje?

R. A crise de paradigmas pedagógicos, a incerteza em relação ao futuro da própria profissão, são elementos que procuram paralisar a reação do educador. Nada que não possa ser superado, felizmente.

6. Por que a maioria dos estudantes que ingressam em cursos iniciais de formação de professores não se interessam em serem professores?

R. Na sociedade em que vivemos “honra-se o vício dourado” e despreza-se o trabalhador humilde e honesto que luta pela sobrevivência de sua família. Cultuamos os falsos heróis. Os estudantes, os jovens em geral, são enganados pelo paradigma do “ter” em detrimento do paradigma do “ser”.

7. “O Brasil é ainda um país que não alcançou sua cidadania educacional” (CURY 2000). Você concorda com essa afirmação? Por quê?

R. No ranking mundial a nossa contribuição científica e cultural é ainda bastante modesta. Contra fatos não há argumentos.

8. A família hoje, em virtude da incorporação da mulher no trabalho e da redução do numero de seus membros e horas de convívio, vai delegando à escola maior responsabilidades no que diz respeito a um conjunto de valores básicos. Comente.

É verdade. Há sinais de falência da missão educacional da família, que deveria consagrar-se à formação do caráter das crianças e jovens. Este papel está sendo atribuído ao educador profissional, que deve colaborar como uma parceiro dos pais na condução da nossa juventude.
Já existem jovens casais, mais evoluídos, que realizam experiências pedagógicas interessantes. Conheço um deles, formado de um médico e uma advogada, que combinaram trabalhar, profisionalmente, apenas vinte horas semanais, cada um, para darem conta de estarem presentes com os filhinhos de tenra idade. Em uma boa opção, embora tenhamos de reconhecer que nem sempre está disponível para todos.









3 comentários:

Carol disse...

Boa Tarde, Larissa!
Gostei muito da entrevista realizada com o professor Miguel Ney sou aluna dele e também posso ter a honra de compartilhar alguns momentos de reflexão sobra a atual organização e ideologia da educação. Parabéns!

Sheila Regis disse...

Olá Larissa!
Parabéns pela entrevista, muito boa! O professor Miguel é experiente e fala com propriedade sobre as mudanças que vêm ocorrendo ao longo dos anos com sua profissão, sendo que estas nem sempre caminham para o melhor, por vezes, apenas invertem papéis, o que não resolve o problema da Educação no Brasil...

Lêda Gonçalves de Freitas disse...

Oi Larissa! Gostei da entrevista. Não deixe de mostrar para o professor Miguel. Acho apenas que você poderia ter separado o livro da entrevista, ou seja, uma postagem apenas com a entrevista.
abraços, Lêda